por Ana Claudia Machado
Com mais de 30 anos de atuação em segurança privada, inclusive com título de especialista em gerenciamento de segurança e crises (Israel) e inteligência policial (EUA), o consultor Roberto Costa tem muito a compartilhar sobre sua experiência.
Mestre em Educação, Administração e Comunicação, Costa já lecionou na Universidade Comillas de Madrid, na Espanha, e foi um dos criadores do primeiro curso superior de Gestão de Segurança Empresarial e Patrimonial em território brasileiro. Desde os anos 2000 é sócio da The First Consultoria, que oferece serviço de segurança pessoal. Na entrevista a seguir, entre outros temas, ele comenta que a figura dos guarda-costas tradicionais aos poucos tem sido substituída por um estilo mais despojado, aborda as preocupações dos executivos brasileiros em relação à segurança pessoal, os pontos mais negligenciados na rotina de proteção e o quanto a crise econômica impacta as questões de segurança.
Quais são os desafios que a área de segurança pessoal e proteção executiva enfrenta atualmente?
O desafio maior está com os prestadores de serviços de segurança. Quando me refiro aos prestadores, é no sentido mais amplo, abrangendo tomadores e terceirizados. Todos devem compreender que estruturas de proteção são investimentos e devem ser mensuráveis. Tudo deve ser medido. A adoção de uma estrutura de segurança implica em reduzir perdas para pessoas e para o negócio. Quando isso não está claro para os prestadores, suas soluções para os clientes não são percebidas como investimentos e passam a significar gastos. E gastos são combatidos ferozmente nas organizações.
Há uma tendência de substituição dos guarda-costas tradicionais por agentes mais discretos?
Não diria tendência. A sociedade é dinâmica e tudo se trans- forma muito rapidamente e novos comportamentos são adotados pelas pessoas em geral. Atualmente tem se reduzido a utilização de trajes mais formais, com a utilização de gravatas e roupas sociais para outros mais despojados. Essa transformação demanda adaptações e reconfigurações em todos os sistemas, não apenas aos operadores de segurança pessoal.
Porém, deve-se atentar para a aplicação adequada para cada tipo de risco. Os trajes formais, bem como procedimentos mais rígidos, devem ser utilizados conforme o nível de risco que se atende. Para cada tipo de operação é desenhada uma arquitetura de proteção compatível com o objeto de proteção.
Quais são as exigências legais para a atuação desses profissionais?
A atividade de proteção é regida pelo Ministério da Justiça e controlada pela Polícia Federal. Há diversos controles administrativos e operacionais para que uma atividade de segurança possa ser desenvolvida. O ordenamento legal mais específico teve início em 1983, com a Lei 7.102. A partir dela surgiram diversas alterações.
Você atuou na equipe de segurança pessoal do governador do Estado de São Paulo. Quais lições tirou dessa experiência?
A proteção executiva em segurança pública difere bem da segurança privada. As análises de riscos, bem como os planos de segurança, são desenhadas considerando vários aspectos de ordem pública. Há uma conexão entre os serviços de inteligência e demais órgãos de governo e da iniciativa privada. A autoridade policial de uma estrutura de proteção pessoal fortalece ações de prevenção e de controle. São diversas as lições aprendidas, desde o profundo detalhamento de uma análise de riscos, até a execução de uma operação. Uma das principais consiste no cuidado com as informações e com os participantes de qualquer evento. Desconfia-se de tudo e de todos, mas com muita elegância.
A crise política e econômica que o Brasil enfrenta trouxe algum impacto às questões relacionadas à segurança pessoal?
Obviamente uma crise econômica transforma o cenário de riscos de desenvolvimento de negócios. Há organizações que se sentem mais fragilizadas e que decidem desde um incremento na proteção de seus negócios até a derradeira desistência de operar no País. Isso impacta diretamente no custo dos produtos e na competitividade internacional. Tratando-se de proteção executiva, atualmente o Brasil é um dos maiores players do mercado de blindagem automotiva e arquitetônica. E para complementar, executivos estão utilizando mais serviços de motoristas com habilidades de segurança e até mesmo vigilantes especializados nesse tipo de atividade. Percebe-se um movimento na direção da adoção de recursos de proteção pessoal. Há empresas diversas investindo nos processos educativos de segurança para seus funcionários em geral. Não somente as questões de safety estão sendo consideradas nos programas de palestras e treinamentos, mas também as de security. Empresas mais amadurecidas e preocupadas com seu público interno estão promovendo mais orientações a respeito do cenário de segurança e crimes, dos princípios do comportamento do criminoso e dos procedimentos de prevenção nas rotinas de seus colaboradores e familiares.
Atualmente, o Brasil é um dos maiores players do mercado de blindagem automotiva e arquitetônica
Você foi um dos criadores do primeiro curso superior de Gestão de Segurança Empresarial e Patrimonial. O Brasil demorou a perceber a importância de profissionais especializados?
Assim como outras áreas do conhecimento, a segurança foi considerada nos ambientes acadêmicos como uma atividade merecedora de tratamentos estratégicos e de nível superior. A área de segurança não foi mais lenta ou mais rápida que outras áreas. O processo de engajamento desse tema seguiu um fluxo natural de amadurecimentos dos processos de gestão. O curso da Universidade Anhembi Morumbi, na capital paulista, entrou nesse movimento e ofereceu uma graduação; em seguida, um MBA para preparar os profissionais de proteção para esse novo cenário. Seus alunos, profissionais experientes em segurança, iniciaram a docência em diversos cursos, gerando a necessária reverberação em diversos centros de ensino superior espalhados pelo País. Há diversos congressos, encontros, seminários no setor. As discussões estão cada vez mais estratégicas e considero que houve uma evolução natural.
A partir da sua experiência como consultor, o que você consegue constatar como as principais preocupações dos executivos brasileiros em relação à segurança privada?
Por um lado, temos executivos que desconhecem a aplicação adequada de um sistema de proteção, atribuindo um valor menor e diferente daquele que se pode oferecer. Muitas vezes o próprio cliente desenha a estrutura de segurança que imagina ser adequada. Por outro, executivos mais educados em segurança têm exigido mais dos consultores e demandam justificativas muito bem estruturadas sobre as sugestões de intervenção. Atualmente é possível realizar uma análise de riscos de maneira que se possa configurar um sistema de segurança e seus subsistemas em uma cronologia de investimentos por prioridades.
Quando o assunto é prevenção, quais são os pontos mais negligenciados por esses executivos?
O Brasil não é definitivamente um país educado em termos de segurança. Poucos empreendimentos têm em seus pro- gramas cuidados com essa área. Infelizmente, uma boa parte da população brasileira passa a considerar a necessidade de segurança apenas após um incidente. O processo de gestão de um empreendimento deve, necessariamente, contemplar a sua proteção em seus mais diversos riscos: naturais (secas, inundações e desmoronamentos); biológicos (bactérias, vírus, lixo e doenças); tecnológicos (riscos químicos, físicos, nucleares e técnicos); riscos derivados de atividades sociais e até mesmo os oriundos de atividades antissociais. Para que se possa enfrentar adequadamente os potenciais perdas para os riscos diversos, há que se identificar criteriosamente os riscos, analisando-se todos os processos organizacionais. Há diversas metodologias e padrões que podem suportar essa ação. De posse do conhecimento dos riscos existentes, é possível estruturar um plano para reduzir seus potenciais destruidores para patamares toleráveis.
Você é um dos autores do livro “Segurança como estilo de vida”. Qual é a principal mensagem que ele passa aos leitores?
Segurança é um assunto importante para a vida das pessoas e das organizações. A adoção de procedimentos seguros transforma-se em hábito e gera qualidade de vida. Por isso, proponho ao leitor uma reflexão a respeito dos riscos aos quais estamos todos submetidos. Percebamos riscos em casa, no trabalho e nos deslocamentos. Percebamos riscos em atividades de lazer e sociais. Isso tudo pode gerar uma certa insegurança e medo. Mas, nesse mesmo exercício, é possível perceber oportunidades de reduzir tais riscos, adotando certos procedimentos simples em nossas rotinas que, aos poucos, transformam-se em hábitos seguros.
Infelizmente, uma boa parte da população brasileira passa a considerar a necessidade de segurança apenas após um incidente
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